sábado, 16 de julho de 2022

 



Reinado de D. Carlos  -  1889-1908

D. Carlos usou, sucessivamente, quatro iates entre 1896 e 1907. 
Os quatro Amelia eram iates de recreio adaptados à investigação oceanográfica, suficientemente grandes para navegarem ao longo da costa portuguesa.
 
D. Carlos nasceu em 1863 
Primeira espedição1896  já lá vão 126 anos
                                 “Vinte Mil Léguas Submarinas”  de Júlio Verne—1870
O rei inicia as suas campanhas oceanográficas em 1896, sete anos depois de assumir a governação, a bordo do iate Amélia, para explorar o fundo do mar, o que aconteceu até 1907. 
Mas é ao conhecer o príncipe Alberto do Mónaco, cientista europeu que passou por Lisboa quando D. Carlos tinha apenas 15 anos, que o futuro rei se interessa cada vez mais pelas profundezas do mar. A amizade entre ambos – que vai incluir também o naturalista açoriano Afonso Chaves – irá prolongar-se pela vida fora. Sem esquecer Albert Girard – nascido em Nova Iorque, mas a viver em Portugal desde criança, curador das colecções reais no Palácio das Necessidades e conselheiro científico do rei. 

Nota
D. Carlos sempre fazia relatórios das suas expedições  com o relato da viagem e os principais resultados da expedição.

Rainha Dona Amélia de Orleães, última Rainha de Portugal
1865-1951 
Nascida em Inglaterra, em 1865, Maria Amélia de Orleães, princesa de França, desposa em 1886 o herdeiro do trono português, D. Carlos de Bragança. 
Princesa de França mas Portuguesa do coração.

 





Yate Amélia I   (Pastel do próprio Rei D. Carlos)

Peça exposta no Aquário Vasco da Gama reproduzida a uma escala mais pequena da obra original que está no Palácio Ducal de Vila Viçosa.

O iate Amélia (hoje Amélia I), foi o primeiro dos quatro iates que o rei baptizou em honra da rainha e que utilizou nas campanhas oceanográficas.
O comandante do Amélia I  -  Roberto Ivens  - foi um dos mais conhecidos exploradores portugueses de África,
Foi construído em 1878, em Preston Inglaterra.
Patrono  -  naturalmente Amélia de Orleães
Esteve ao serviço entre 1878 e 1897
Comprimento 33,84 m
Velocidade 10 nós

Dada a sua relação directa com as dimensões da Terra e como  1 milha náutica é igual ao comprimento de 1' (minuto) de grande círculo, o nó tem utilização generalizada em navegação marítima e aérea.



Amélia II - Adquirido por D. Carlos I, em 1897 para substituir o Iate Amélia I.
Originalmente tinha o nome de Geraldine, rebaptizado com o nome da esposa, Rainha D. Amélia de Orleães. 
Começou como navio de investigação oceanográfica. 
Estava equipado com quatro embarcações uma das quais a vapor.  
Velocidade -  11 nós. 
Foi substituído em 1899 pelo Iate Amélia III.


AQUÁRIO VASCO DA GAMA 

Inaugurado por D. Carlos em 1899





Amélia III 
Construído em 1889, inicialmente chamado Yacona, esteve ao serviço real entre 1899-1901 sendo rebaptizado de Amélia III. 
Comprimento 54,4 m. 
Velocidade 13 nós. 

O último iate da Família Real Portuguesa. 


Amélia IV - 1901-12
 
O navio original Banshee, francês  chegou a Cascais em 1901, adquirido pelo Rei D. Carlos I e rebaptizado em Amélia IV.
Cruzador de 2ª classe, podia servir de navio de guerra, iate Real e navio de investigação oceanográfica.
Comprimento 70,1m.
Velocidade 25 nós.

Resumindo:

D. Carlos usou, sucessivamente, quatro iates entre 1896 e 1907. Os quatro Ameliaeram iates de recreio adaptados à investigação oceanográfica, suficientemente grandes para navegarem ao longo da costa portuguesa.

O primeiro “Améliatinha 35 m de comprimento e era adequado ao trabalho costeiro uma vez que se «comportava muito mal em alto mar, tornando muito difícil qualquer actividade científica. Acresce que havia pouco espaço no convés para trabalhar convenientemente, não havia lugar para um laboratório e a âncora não era suficientemente forte para a dragagem e arrasto. Por isso o ”Amélia” foi usado apenas no cruzeiro de 1896.

Estas razões levaram D. Carlos a adquirir o Amélia II, de 45 m de comprimento, que foi usado nos cruzeiros de 1897 e 1898. No entanto, também a este navio faltava espaço para um laboratório, bem como quartos para a numerosa tripulação necessária no trabalho em alto mar. O Rei compraria por isso o terceiro  Amélia”, desta vez com 55 m de comprimento. Estava armado com um canhão-arpão para trabalhar com cetáceos mas, ainda mais importante, havia mais espaço e a casa das máquinas fora transformada num laboratório.

Apesar de todos os melhoramentos para um eficiente trabalho científico no mar, no  Amélia III”, o Rei ainda não estava satisfeito e em 1901 adquiriu um quarto “Amélia”, com 70 m de comprimento. Foi usado entre 1902 e 1907 e tinha um perfil totalmente diferente dos seus predecessores (Carpine-Lancre e Saldanha, 1992; Saldanha, 1996).

Os três primeiros “Amélia” tinham velas mas, praticamente, não existem registos da sua utilização no decurso dos cruzeiros científicos. Os dois primeiros tinham motores compostos enquanto os “Amélia III” e “IV” estavam equipados com motores de expansão tripla de modo a reduzir o consumo de carvão. Outros dispositivos com o mesmo propósito foram instalados no “Amélia IV”.

 https://riodosbonssinais.blogspot.com/2014/07/yacht-amelia-o-lado-b-de-el-rei-d-carlos.html

 


IATE AMÉLIA IV e a REVOLUÇÃO de 5 de OUTUBRO

Na noite de 3 para 4 de Outubro diversas unidades militares insurgem-se contra a Monarquia.O Presidente do Conselho de Ministros, Teixeira de Sousa,  informa o Rei, aconselha-o a deixar o Palácio das Necessidades e a refugiar-se em Mafra ou em Sintra. O rei recusa e diz-lhe:

“Vão vocês se quiserem, eu fico”

Por volta do meio-dia começam os bombardeamentos ao Palácio. As tropas disponíveis são poucas e o Rei  parte para Mafra  e aí passa a última noite em Portugal.
A ideia era chegar ao Porto, mas chega a notícia que a queda da Monarquia estava para muito breve.
A solução foi tentar chegar à Ericeira onde estava fundeado o Iate Amélia IV..A Família Real: Dom Manuel II,  Rainha Maria Pia (sua avó) , Dona Amélia (sua mãe)  e poucos acompanhantes subiram para a barca “Bom Fim” que os levaram para bordo do Iate Real Dona Amélia.
Como a viagem para o Porto se tornava perigosa apesar da insistência do Rei, finalmente fez-se rumo a Gibraltar, território ultramarino britânico, onde a Família Real permaneceu até meados desse mês de Outubro.
A rainha Maria Pia regressaria a Itália (onde viria a falecer no ano seguinte e é a única da Família Real que não aparece sepultada no território nacional apesar de ter manifestado essa vontade e de na hora do seu falecimento ter pedido para ser virada para  Portugal) e  rei e comitiva embarcaram no navio  britânico, “Victoria and Albert“ tendo fixado residência em Inglaterra onde viria a falecer  em 1932. 
Curiosidade: Maria Pia de Piemonte chegou a Portugal no dia 5 de Outubro de 1862 e partiu para o exílio a 5 de Outubro de 1910, exactamente 48 anos depois..  


  Foi neste navio “Amélia IV” que, após a implantação da república, 5 de Outubro de 1910, o Rei D. Manuel II e família embarcaram na Ericeira, para o exílio sendo conduzidos a Gibraltar.
Em 1911 o regime republicano rebaptiza-o e passou a chamar-se NRP  Cinco de Outubro, passando a ser utilizado como Cruzador.
Em 1912 foi reclassificado como "Aviso" e passou a navio hidrográfico até 1937

 


Ericeira — Momento da saída da Família Real  (Dom Manuel II, Dona Amélia para o “Amélia IV

D. MANUEL II  -  1908-1910

Último rei de Portugal

Foi neste navio que, após a implantação da república, 5 de Outubro de 1910, o Rei D. Manuel II e família embarcaram na Ericeira, para o exílio sendo conduzidos a Gibraltar. 
O Rei faz saber que pretendia rumar ao Porto mas com a chegada da notícia que a revolução republicana também vingara no Norte, o iate Amélia navega em direção a Gibraltar. 

Ericeira Fotografia do embarque para o Amélia IV  

À frente do grupo: a rainha D. Maria Pia de Saboia (esposa de D. Luís), pelo braço do Sr. conde de Mesquitela, senhoras da família Castro Pereira e Nuno Pombal, Srs. Serrão Franco, conde de Marim, rainha D. Amélia (mãe de Dom Manuel II) , conde de Sabugosa, D. Manuel II, Maria Francisca de Meneses, os Srs. José de Melo (Sabugosa), Waddington, tenente Feijó Teixeira, marquês de Faial, Velez Caldeira, condessa de Figueiró, marquesa de Unhão e duas criadas. 


Visita da Família Real 

ao Algarve, Outubro1897 


9 - Chegada à gare de Albufeira visita a  Loulé e Faro.

10 - Visita a Olhão e Tavira.

11 - Visita a Vila Real Santo António e Minas de São Domingo e VRSA.

12 - VRSA, Sagres, Lagos e Portimão.

13—Portimão e Monchique.

14 - Portimão, Lagoa, Silves, gare de São Bartolomeu de Messines, regresso a Lisboa.

 

Navios que acompanharam a Visita Real:

Iate real:     D. Amélia e Iate Lia e 
Canhoeiras: Mandovy e Zaire.

 


Apesar dos nossos reis, quase desde o início da nacionalidade, se intitularem do Algarve

D. Sancho I -Rei de Portugal Silves e Algarve (1189)

D. Afonso III - Rei de Portugal e do Algarve (1249)

D. Afonso V Rei de Portugal, do Algarve, Senhor de Ceuta e de Alcácer em África.

   (1471)

As visitas reais ao Algarve foram raras e esparsas. Entre os périplos de D. Sebastião em 1573 e de D. Carlos em 1897, mediaram mais de 300 anos, sem que sangue real pisasse solo algarvio. Nem a inauguração do caminho de ferro, em 1889, constituiu motivo para uma deslocação das cabeças coroadas ao “reino”, ao contrário do que vinha a suceder, em situações idênticas noutros pontos do país.

Visita a Tavira
Visita a Olhão






Mas por que os Reis de Portugal se intitulavam "Reis de Portugal e dos Algarves d´aquém e d´além-mar", sempre no plural?
Garb é palavra árabe que significa Ocidente, e acrescida do artigo “al” (Algarve), o Ocidente.
Para quem vinha da Arábia pelo Mediterrâneo, a região do Algarve português era a mais no Ocidente da Europa. 
O norte da África (atual Marrocos) era chamado Magreb, que também quer dizer Ocidente, e os portugueses denominavam Algarve de além mar ou Algarve de além mar em África.

Em resumo,

Algarve de aquém mar (do lado de cá do mar), era a região da atual província portuguesa do Algarve, e Algarve de além mar (do outro lado do mar) era a região do atual Marrocos que lhe ficava fronteira, do outro lado do Estreito de Gibraltar.

E como isso foi parar no título dos Reis de Portugal?

O Algarve português foi reconquistado pela primeira vez em 1189 pelo Rei D. Sancho I (1185-1211), que se apressou a tomar o título de Rei de Portugal, de Silves e do Algarve.A tomada definitiva do Algarve só ocorreu em 1249 com D. Afonso III (1248-1279). Mas Castela se arrogava direito à região, e só com o Tratado de Badajoz (1267) a questão foi decidida a favor de Portugal, e D. Afonso III pode assumir o título definitivo de Rei de Portugal e do Algarve.D. Afonso V, cognominado o Africano conquista Alcácer Ceguer (1458) e começa a usar o título de Rei de Portugal e Senhor de Ceuta e de Alcácer em África.

 E, depois de tomar Arzila e Tânger, passa a usar o de Rei de Portugal e dos Algarves d`quem e d`alem mar em África.

D. Manuel, o Venturoso, depois de 1499 amplia ainda mais os títulos: Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém mar em África, Senhor de Guiné e da conquista da navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia.

E o último acréscimo foi o do Reino do Brasil, pelo Príncipe Regente D. João. (futuro D. João II)

Curiosidade relativa ao Brasil

D. João VI quando eleva o Brasil à categoria de reino independente

E ordena: “Que nos títulos inerentes à Coroa de Portugal, e de que até agora Hei feito uso, se substitua em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões, e Actos Públicos com o novo título de Príncipe Regente do Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves d’Aquém e d’Além Mar em África e da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.” 

2º Que os meus Reinos de Portugal, Algarves e Brasil formem, d’ora em diante, um só e único Reino, debaixo do título de “Reino Unido de Portugal, do Brasil e Algarves 

D Sancho I 1189 (conquista Silves)  Pela Graça de Deus, Rei de Portugal, de Silves e do Algarve (Dei Gratiae, Rex Portugaliae, Silbis & Algarbii;

D. Afonso III  1267 (tratado de Badajoz) Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve (Dei Gratiae, Rex Portugaliae & Algarbii)

D. Afonso V 1471 Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta e de Alcácer em África d'Aquém e d'Além-Mar em África

D. Maria I e D. João VI (1815) Pela Graça de Deus, Rei (ou Rainha) do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor (a) da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia,

D. João VI (1822) Pela Graça de Deus e pela Constituição da Monarquia, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia,

D. Maria II - D. Manuel II (1842-1910) Pela Graça de Deus, Rei (ou Rainha) de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor (a) da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, Desde a carta Constitucional até à queda da Monarquia.

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Só por curiosidade



Yatch Amélia e Mandovi em Tróia (1897)




  Reinado de D. Carlos   -   1889-1908 D. Carlos usou, sucessivamente, quatro iates entre 1896 e 1907.  Os quatro  Amelia  eram iates de r...